quarta-feira, 19 de junho de 2013

Luto e Luta - Texto de Asaph Borba



  1. Ontem foi um dia muito especial para mim. De um lado, como jornalista e cidadão, acompanhando pela TV as concentrações por todo o país, em que o povo dava uma mensagem clara de descontentamento e clamor por mudanças. Porém, o dia também foi marcado por estar participando de um culto memorial realizado em Santa Maria, cidade gaúcha em que ocorreu a tragédia da Boate Kiss, que matou 242 pessoas no final de janeiro deste ano.
    O clima nas ruas das principais cidades do Brasil era de luta pacífica, mas no culto, havia luto. 
    Entretanto os dois cenários se uniam, pois, tanto os manifestantes das ruas do Brasil, quanto os familiares presentes na Primeira Igreja Batista de Santa Maria clamam e esperam pela mesma coisa: justiça. Contudo, a justiça que hoje se busca não pode ser aquela maculada por interesses pessoais, econômicos e partidários, que pauta a justiça brasileira. Tem que ser qualitativa, total, profunda e principalmente transparente. Pude ver no rosto dos pais e familiares das vítimas gaúchas o desconsolo e frustração.
    A cada dia que passa vemos o quanto a sociedade brasileira fragilizou-se. Ano após ano, governo após governo, a população vê sua dignidade ser delapidada por uma estrutura nacional endêmica de corrupção e impunidade, que envolve os três poderes. Uma inércia, onde o direito fica estagnado, o desenvolvimento emperra, a infraestrutura torna-se obsoleta e os recursos e riquezas da nação desaparecem em um buraco negro de administrações inaptas, que são a base para o surgimento dos mensalões e outras mazelas. Enquanto isso, a justiça morre e o luto se instala antes mesmo das tragédias. Os órgãos que devem legislar, executar, fiscalizar e julgar eventos como os ocorridos na Boate Kiss, tumba de mais de duas centenas de vidas, não o fazem ou o realizam sem critérios de segurança sólidos. Infelizmente, assim começam o risco e a morte, que rondam a sociedade. Isto acontece tanto com respeito à segurança estrutural, que neste caso gaúcho, só era uma questão de tempo, mas também quanto a segurança pessoal dos cidadãos. O sistema deficiente em parceria  com o judiciário, mantém na rua criminosos de todas as escalas. Empresários irresponsáveis, bombeiros negligentes, batedores de carteira, estrupadores reincidentes, assim como mensaleiros julgados e condenados, mas que ainda soltos. Todos esnobam e ironizam a justiça. Por isso e muito mais, teremos ainda pela frente muita luta nas ruas e luto nas famílias, como encontrei no evento em Santa Maria.
    Porém, a expectativa derradeira está em Deus que tudo vê. A esperança se renova para quem, tem fé. Creio que tanto a luta quanto o luto são atenuados quando aprendemos a confiar e esperar em Deus. Sua justiça e seu direito nunca falham. Quando Deus entra no processo, os resultados não são paliativos. Resultam em transformações sociais permanentes que vão além de centavos descontados em passagens de ônibus. Terminam em verdadeiras metamorfoses que atingem além de multidões, afetam os poderes, tanto atuais quanto futuros pois trazem no seu bojo a exposição, implantação e manutenção da verdade que, infelizmente, para muitos mandatários, é relativa. Parece ser  um valor impossível de ser alcançado em sua totalidade.
    Porém, a Bíblia diz que Jesus é o caminho a verdade e a vida, e ninguém encontra a real e total verdade sem ele. Esta verdade de Cristo, confronta a injustiça, a falsidade e a mentira por ser absoluta e real. Leva o homem a encontrar-se consigo mesmo e a conhecer o propósito de Deus que é formar uma família de muitos filhos semelhantes a Jesus.
    Os maiores inimigos da verdade entretanto, que são o silêncio, a escuridão e a ausência, não dão trégua. O primeiro impede de a mesma ser ouvida e compreendida, porque onde há silêncio não pode haver justiça. O segundo, é o que impede que a verdade seja vista. A luz, é a única coisa que vence as trevas. Muito do que acontece no Brasil é fruto de escuridão. O terceiro é a ausência. Sem a presença de quem, crê, proclama e vive a verdade, esta nunca será conhecida ou compartilhada. As manifestações de rua, assim como as famílias das vítimas unidas e presentes em todos os eventos que abordam sua demanda, mostram que todos querem conhecer alguma verdade. O luto e a luta são reais e têm que ser reconhecidos por todos. Ontem a Igreja estava presente junto dessas famílias em Santa Maria assim como o povo se fez presente nas ruas. Todos buscam muito mais que culpados e mal administradores.  Querem conhecer e encontrar aquilo que o Brasil mais precisa: a verdade trazida pelas mãos imaculadas da Justiça. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” – João 8:32.

    Autoria do Texto: Asaph Borba 
    Usado com a permissão do autor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário